Não me digas onde moras ou o que fazes para viver.
Não me
fales do teu signo ou qual é o futebol que gostas de ver.
Liga-me às três da
tarde, no meio de um dia corrido, para dizer que não aguentas as saudades, em
vez das duas da manhã quando não tens nada para fazer.
Diz-me que estás à porta
do meu trabalho para me levar a beber um copo.
Diz-me o que gostas de comer e
eu faço-te o jantar.
Não me dês frases feitas de quem pouco faz.
Diz-me que fui
a escolhida e não a opção.
Se um dia eu te falar das minhas dores, tem
paciência e não digas que faço tempestades em copos de água.
Traz-me conforto
na segurança do silêncio, porque as palavras são gastas, e abraça-me como se me
fosses perder.
Não me leves a jantar, nem me compres flores ou chocolates,
prepara a manta e leva-me a contar as estrelas.
Diz-me o que vês em cada uma
delas e eu prometo guardar tudo com cuidado dentro de mim.
Leva-me a ver as
luzes da cidade enquanto os nossos olhares se cruzam em silêncio e sentimos o
quão bom é estar ali.
Diz-me que estou bonita e não quererias mais ninguém.
Mais do que isso, faz-me sentir única.
Não esperes que seja sempre eu a
procurar-te e faz sempre o que tiveres vontade.
Não te deites zangado comigo e
diz-me que sou a tua paz.
Abre uma garrafa de vinho e espera por mim ao final do dia,
porque é para ti que vou querer voltar.
Conta-me como é parvo o colega que
trabalha contigo e eu paro o livro que estou a ler para te ouvir.
Diz-me que te irrita a música
que eu ouço enquanto me puxas para dançar no tapete da sala.
Não me mantenhas
por ego ou por vaidade.
Não faças de mim prateleira de opções.
Senta comigo e
damos um jeito.
Seja para ir ou ficar.
Mas se um dia pensares em mentir -me...
vai-te embora.
Não voltes.
Para que eu faça o luto de uma morte não anunciada.